O general foi o primeiro ministro do Exército após o fim da ditadura militar, tendo sido escolhido pessoalmente pelo presidente eleito Tancredo Neves, em janeiro de 1985. Gonçalves teve atuação decisiva dois meses depois, quando Tancredo adoeceu na véspera da posse, em 14 de março. Segundo o general relatou em diversas entrevistas, ele atuou para que o vice-presidente eleito, José Sarney (PMDB), assumisse o cargo até que Tancredo se recuperasse – o que nunca aconteceu. Tancredo morreu em 21 de abril, Sarney tornou-se presidente, e Gonçalves continuou como ministro do Exército durante todos os cinco anos do primeiro governo civil desde 1964.
Em nota, Sarney lamentou a morte do ex-ministro, a quem chamou de grande amigo, e disse que o general teve papel fundamental na transição para o regime democrático. “Ele deu suporte para que a transição fosse feita com as Forças Armadas e não contra as Forças Armadas. Pacificou o Exército e assegurou e garantiu o poder civil. Reconduziu os militares aos seus deveres profissionais, defendendo a implantação do regime democrático que floresceu depois de 1985”, lembrou Sarney.
Apesar da atuação para garantir a transição ao governo civil em 1985, Pires Gonçalves defendeu o regime militar que vigorou entre 1964 e 1985 até o fim de sua vida. Em 2012, foi um dos militares da reserva que vieram a público manifestar-se contra a instalação da Comissão Nacional da Verdade (CNV). Em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, o general comparou a CNV a uma “moeda falsa, que só tem um lado”. “Embora o discurso seja de que não haverá punição com esta Comissão da Verdade, já estão promovendo a maior punição ao Exército, que está tendo o seu conceito abalado injustamente”, disse. Sobre a presidente Dilma Rousseff, recém-empossada e ainda com a popularidade em alta, o general disse ela que deveria ter “a modéstia” de deixar de olhar o passado para olhar “para o futuro do País”.
O general foi citado no relatório da CNV divulgado em dezembro de 2014 como um dos 377 agentes do Estado que atuaram na repressão política e foram responsáveis, direta ou indiretamente, pela prática de tortura e assassinatos durante o regime militar. De 1974 a 1977, ele foi chefe do Estado-Maior do 1º Exército, no Rio de Janeiro, e comandante Militar da Amazônia. Em 1983, assumiu o Comando do 3º Exército, em Porto Alegre.
Fonte: veja.abril.com