
“Tudo que era guardado a chave permanecia novo por mais tempo. Mas meu propósito não era conservar o novo e sim renovar o velho” (Walter Benjamin).
Quando falamos em mudança de paradigma no campo da ciência humana e social, especialmente a educação, o primeiro olhar cético é voltado para a qualificação do professor. Mudar numa perspectiva emancipatória constitui o cerne do processo educacional tendo o método cientifico como elemento fundante objetivando inaugurar um novo modelo que alargue a compreensão e o papel do educador na construção de um sujeitodialético/crítico.
Portanto, cogitar a reformulação do conceito de método para exteriorizar a força e o potencial intelectual do educando, exige, de um lado, a capacidade teórica do educador de descortinar as perspectivas mais nobres engendrando as condições concretas para a formação desse sujeito-leitor; e, de outro, estimular a participação do sujeito-leitor para compreender sua estrutura psicomotora e social a partir do processo de leitura dinâmica. Leitura dinâmica é o ponto chave desse processo dialético. Formar leitores competentes, críticos e produtivos demanda tempo e, acima de tudo, paciência para alcançar o propósito final. A nossa cultura – diante da realidade conjuntural – exprime um comportamento contraditório em relação ao sujeito-leitor (educando), pois, é visível a apatia em cada um deles (há, na verdade, uma rejeição ao processo educacional devido às experiências vivenciadas pelos educandos em seu cotidiano) sobre elementos negativos como: a violência social, que, de certa forma, se reflete em seu lar; a ausência dos pais como peças fundamentais no processo de formação da personalidade de seus filhos e tantos outros elementos que poderíamos evocar como vitais para uma sólida cidadania do educando, por conseguinte, estão desperdiçando oportunidades singulares aos seus pupilos.
Nesse sentido, urge os argumentos inquietantes e necessários sobre o papel da escola na formação intelectual do educando: será que a escola contemporânea não estar sendo suficientemente competente para formar um cidadão? E, se, de fato, isso for uma realidade, quem é o culpado pelo fracasso escolar? Essas duas interrogações são pertinentes e requer uma resposta à altura.
A tarefa da escola é fomentar o desejo do educando pela aprendizagem, ou melhor, pela apreensão dos saberes social e historicamente construído. O educador nesse processo ensino-aprendizagem será o mediador para consolidar a formação cidadã do futuro sujeito-leitor. O educador por sua vez, não pode estabelecer divisão dicotômica entre aprender e ser no contexto social. O educando deve ser lapidado de forma ampla e dinâmica, respeitando seu espaço e sua intelectualidade e, obviamente, seus limites. E, para integrar esse processo produtivo, é indispensável a construção de estratégias que sejam capazes de sensibilizar o educando, promovendo nele a paixão pelo ato de aprender a aprender. A leitura pode e deve ser a ponte constituinte para tornar o educando em um ávido leitor e, assim, desbravar o mundo abstrato contido nas páginas dos livros e textos, permitindo estabelecer diálogos com esses autores. Estes devem ser leves e resumidos para não gerar um espírito de enfado e apatia ao que está sendo lido e descoberto.
A leitura é um processo trabalhoso e árduo, requer dedicação, empenho e uma clara intenção por parte de quem ler para compreender o objeto estudado naquele texto e/ou livro; ou seja, ser autônomo e crítico exige uma ruptura com o senso comum; e tornar-se leitor dialético é reinterpretar a leitura sob o ponto de vista da diferença em toda dimensão educacional, cultural, política, econômica, social e de si mesmo.
É na escola que o educando ingressa no mundo científico. Nela é possível integrar os saberes que, de um lado, foram se construindo progressivamente, incorporados na experiência concreta do educando cotidianamente; e, de outro, sua aproximação aos elementos mais formais (ou seja, os conteúdos tradicionais) que, de certo modo, confere-lhe status de conhecimento científico. Mas, o conhecimento científico estar para além da mera reprodução em sala de aula desses conteúdos, sua perspectiva transcende ao costume, as tradições e, coloca-se num lógica essencial ao educando como interprete desses saberes resultando na pesquisa e na investigação. E o elemento chave desse processo é a leitura dinâmica. Somente uma leitura crítica, independente pode estabelecer o ethos para a reinterpretação do conhecimento científico. Não há outra via, a não ser o da curiosidade metódica para a produção do conhecimento.
Contudo, para atingir o auge do conhecimento científico propriamente dito, é necessário que o sujeito-leitor esteja alinhado com a prática da leitura dialética. A escola, portanto, tem que se tornar uma espécie de correia para conduzir o educando na perspectiva do domínio da leitura crítica dos fatos e acontecimentos, sem, contudo, deixar de lado a produção do conhecimento científico.
Desde cedo a escola procura formar a personalidade do educando. E esta formação necessita de um suporte maior para consolidar sua cidadania: a família. A escola e a família representam uma via de mão dupla, cujo objetivo é o cuidado com educando e seu consequente crescimento intelectual e social.
Uma escola alfabetizadora produz excelentes educandos. Tal método tem na leitura sua maior estratégia producente e, isso, nos remete para uma concepção de escola democrática, humana e genuinamente cidadã. Uma escola com o compromisso de formar cidadãos não busca apenas seu sucesso com um método transformador e essencialmente humanista, na verdade, ela traduz objetivamente a necessidade de se repensar o papel de ensinar-e-aprender concomitantemente.
Quando pensamos em uma educação de qualidade com equidade social a lógica nos empurra para essa concepção democrática do fazer se refazendo e do refazendo-se se desfazendo; ou seja, o cerne desse processo é mediado pela dialética – melhor ainda, pela capacidade do sujeito-leitor se renovar sistematicamente.
Inegavelmente, a escola se transforma e transforma o indivíduo de tal modo que, a cada momento, ele se percebe como ser inacabado e mergulha profundamente no mundo do desconhecido para emergir como sujeito totalizante do objeto.Enfim, a relação da escola com o sujeito – educando – se mede pela forma como ela o molda; isto é, pode ser pela perspectiva conservadora ou, então, progressista, tal processo depende muito de quem o realiza enquanto mediador do conhecimento.
Texto: Profº Jacinto Júnior